sexta-feira, 16 de julho de 2010

O processo da oficina de montagem.

Finalmente consegui fazer o blog de relato das experiências vividas nestes três meses de oficina com os atores do CAT - Casa de arte do Terreirão. Meu desejo era ter feito desde o início um diário de bordo, mas devido aos intempéries da vida não foi possível. Agora começo no blog de trabalho e conto aos leitores um breve relato dos acontecidos.

Explicações necessárias: Meu nome é Fernando Lopes Lima, sou artista de teatro e como tal sou inquieto e passo muito tempo criando possibilidades de criação. Quando ainda morava em Belo Horizonte criei o projeto do Cortejo por um mundo melhor. Inspirado no discurso por o mundo melhor que fazíamos no espetáculo "Super Night Shot", do qual fiz parte durante três anos, o cortejo é o desejo de transformar um rua inteira em palco. Apresentei o projeto para um grupo de amigos de Santa Teresa no Rio de Janeiro e resolvemos apresentar. Preparamos tudo em aproximadamente 15 dias e foi uma ótima experiência. 
Clic na foto para ampliar"

Depois, em 2009, fui convidado pela FUNART para o prêmio de Interações Estéticas. Cheguei em São Paulo na tentativa de encontrar alguma instituição de arte que apoiasse minha iniciativa. O "Cortejo por um mundo melhor" já tinha se transformado em uma oficina de montagem com o objetivo de estimular grupos de atores a trabalhar na rua, usando o espaço urbano como espaço de representação teatral. Descobri que era isso que eu queria fazer, viajar pelo Brasil com esta oficina de montagem.

Performance-arquitetura-teatro-refinamento-criação-processo

O projeto ficou engavetado por falta de verba e eu fui cuidar de outros trabalhos. Sempre com a aquele gostinho na boca de quem mordeu, mas não saboreou. Fiquei esperando uma oportunidade.

No início deste ano (2010) resolvi morar no Recreio (RJ) e conheci o trabalho que a CAT vem desenvolvendo desde de 2003.  Um trabalho sério e dedicado que já transformou muitas vidas ao londo destes anos. Percebi que ali seria minha oportunidade de desenvolver o projeto do cortejo.

A Casa de Artes do Terreirão é uma Associação sem fins lucrativos, 
fundada na cidade do Rio de Janeiro em Setembro de 2003.

Peguei o e-mail da diretora Maisa de Aguiar e me ofereci como voluntário. Apresentei a ideia e a Maisa aceitou o projeto com muito carinho. Convidei a atriz Lígia Dechen para fazer assistência de direção, melhor escolha impossível. Conheci a  Valéria Serápio (Monitoria da CAT), que se interessou por participar e começamos a divulgar a oficina. Não demorou muito e já tínhamos cerca de 30 pessoas interessadas.

A oficina seria para atores pesquisadores, mas a procura foi com tanta paixão que resolvemos abrir para quem quisesse participar. Sabíamos que todos seriam úteis ao trabalho. Em se tratando de um cortejo, vamos precisar de gente pra cantar, atuar, para produzir, operar luz, som, confeccionar figurinos, cenário e etc.

Dividi o processo em etapas. A primeira parte chamei de "azeitamento", é o momento para o grupo se conhecer melhor, me conhecer e para eu poder saber com quem iria trabalhar. Este é ponto importante, visto que a decisão de caminho seguir é tomado nesta fase. Tudo depende de como o grupo de configura. Em que nivel estão. O segundo momento eu chamo de "criação", é o momento que começamos a pensar o espetáculo, escolhendo locações e cenas.  
Uma caracteristica do processo desta oficina é que não procuro fazer planos, meu método é de construção em conjunto e cada dia é um dia para ser vivido, experimentado, sem pensar no resultado, mas curtindo, saboreando e digerindo o processo. Isso vela para eles, que são os atores criadores e para mim que sou o diretor criador. É de fato uma interação estética. Não me coloco na posição de professor, procuro deixar isso bem claro. Somos artistas criadores. Trato todos igualmente, sejam atores iniciantes ou mais experientes. 
Na primeira reunião combinamos um pacto, todos que queriam participar do projeto deveriam se comprometer com o horário combinado, não faltar por motivos banais e ter a disciplina adequada a um artista criador. O teatro é essencialmente colaborativo ou seja cada parte da engrenagem é importante para o bom desempenho do todo. Nosso objetivo era o espetáculo e a partir daquele momento o projeto deixava de ser meu e passava a ser nosso.


Devo explicar do que se trata o espetáculo:


"O cortejo por um mundo melhor" como o próprio nome sugere é um espetáculo cortejo. O grupo escolhe a rua por onde o cortejo passará; depois escolhemos os lugares onde acontecerão as cenas. Tudo isso usando o critério de avaliação da condição da rua; movimento de pessoas, carros, iluminação, lugares (locações)e etc.
O espetáculo: No prólogo, enquanto os demais atores cantam, um dos atores é o mestre de cerimonia, convidando o publico e fazendo as devidas explicações. Depois caminhamos, sempre cantando, até o lugar onde acontecerá a primeira cena. Os atores se destacam do coro, fazem a cena, depois voltam para o coro e seguimos para a outra cena. Os atores alternam entrem coro e corifeu até o final. 

Estamos agora na fase de criação. Escolhemos a rua por onde passará o cortejo. Definimos os atores de cada cena e agora vamos escolher os locais onde as cenas acontecerão. 
Algumas cenas já estão definidas e outras estão sendo experimentadas; criadas. 

Sempre temos boas surpresas em um processo livre como este. Desta vez não foi diferente e encontramos, ali mesmo, na comunidade, uma cantora disposta a fazer a preparação vocal e rítmica dos atores. Falo da cantora Brina Ribeiro, que se mostrou muito interessada em fazer parte do projeto e desde então tem se dedicado a sua função com muito cuidado e talento. Esses encontros são tão ou mais importantes que o espetáculo.

Agradeço a todos que estão apoiando e fazem parte deste projeto:

A CAT, meu carinho e admiração a todos da equipe.


Merda para todos os atores, são eles:

Alex da Silva
Andressa silva de andrade
Cleudson Gomes
Dobora Cristina
Douglas Oliveira
Feranda Sofia
Janete Santana
Jessica Daíse
Luano Rodrigues
Marica Costa
Michele Bispo
Ricardo André
Taís Andrade
Thiago Murro
Valéria Serápio
Vinicio domingues
Silvia Magalhaes
Paulo Roberto
Sabrine
Laura Paloma


Seguem as fotos que tiramos no dia da escolha da locação principal. Escolhemos a rua do Canal das Taxas, no coração da comunidade: (clic nas fostos para ampliar) Tenho mais fotos, logo posto todas aqui.